Recentemente comecei a assistir um anime chamado Bakemonogatari (do japonês Bakemono + Monogatari, "Histórias de Monstros"). Já de início pude observar alguns diálogos interessantes, inclusive me instigaram a continuar baixando o anime, que no momento se encontra no terceiro episódio. Neste mesmo episódio, o último lançado até então, Araragi (personagem principal da trama) tem alguns monólogos internos a respeito da pequenez de sua existência e de seus problemas diante da humanidade. É algo que já me peguei pensando algumas vezes, e, sinceramente um assunto que considero em parte perigoso.
A entidade humana é extremamente egoísta, normalmente vê sempre a si mesmo e a seus próprios problemas como se fossem absolutos na nossa realidade atual, independente dos que nos cercam. Algo comum, apesar de um mundo tão globalizado como o nosso. Algumas pessoas fazem de seus próprios problemas verdadeiras tempestades, quando na verdade são coisas simplórias, enquanto outros não dão a mínima para nada. Isso vai de cada um, mas todos vivem voltados paras as dificuldades e percalços que a vida lhes propõe, alguns até enlouquecendo ou morrendo devido a eles...
Mas porque? Com qual finalidade?
Ao observar o céu à noite, tenho o costume de me questionar isso. "Porque esta vida? Porque todos estes problemas? De que adianta, nada muda no universo, nossos problemas, dificuldades, nada significam, vamos todos morrer e tudo ficará para trás...".
É meio deprimente pensar desta forma. Lembro-me que ouvi de minha mãe um comentário a respeito dos astronautas da Apolo XI, que, após irem ao espaço, pisar na Lua e, então, observar a Terra de lá, perceberam que não viam ser humano nenhum, não viam edificações nenhuma, nada... Seus próprios problemas, ali, na Lua, o ponto mais próximo do nosso globo azul em comparação aos outros planetas e satélites, já perdiam significado, tudo pelo qual eles se descabelavam, se estressavam, se entristeciam... Então, ao voltar à Terra, cada um foi morar, o mais isolado possível, e passaram um bom tempo sem dar entrevistas, aparecer na TV... Acredito que tenham encarado uma depressão profunda devido à visão da Terra a partir da Lua. O vazio que deve ter tomado conta deles deve ter sido colossal.
Mas acho que, dependendo do ponto de vista, isto pode se tornar algo favorável para a pessoa, este tipo de pensamento. Meu bisavô Eduardo, por exemplo, sempre esteve olhando as estrelas, sempre. Antigamente não havia tantas construções iluminadas no solo terrestre, logo a quantidade de corpos celestes devia ser muito maior que nos dias de hoje, para quem vive em cidade, como eu. Devia ser uma visão magnífica. De qualquer modo, sempre foi um homem que nada na vida o abalou. Absolutamente nada, nem a morte de parentes próximos e amados por ele, ele jamais chorou ou demonstrou depressão ou fraqueza, em momento algum. É como um amigo meu me comentou: "Isto parece mito". De fato, lendo assim realmente parece.
Mas não é.
Refletindo a respeito, acho que meu bisavô, que tanto olhava para o céu estrelado dos anos 50, 60, já havia confrontado a mesma sensação que os astronautas da Apolo XI conheceram, mas teve a força de usar isso a favor de si mesmo. Tornou-se praticamente imune a sentimentos negativos. Percebeu que tudo era passageiro, até o aparentemente mais sérios dos problemas que pudesse vir a surgir. Soube extrair das dificuldades da vida somente o lado positivo que elas escondiam em si. E se tornou uma das quatro pessoas que mais admiro na minha vida.
Olhando o céu da noite, percebo que me tornei um pouco como meu bisavó, que, muito infelizmente, não tive a chance de conversar. Mas fico feliz em saber que não fui vencido pela depressão, como vem sendo o Araragi-kun.
Espero que ele olhe mais para o céu daqui pra frente.
Opening do Anime. Não se assustem com a brutalidade do conteúdo.