terça-feira, 30 de junho de 2009
Eu e o Japão
sábado, 27 de junho de 2009
Rei do POP e Julgamentos
Dois dias atrás morreu um dos maiores ícones da história musical, Michael Jackson. O cara era indiscutivelmente foda, o melhor showman que já pude ver pisar em um palco. Fiquei realmente triste ao saber do fato, sempre gostei muito dele e das músicas, sem falar das performances maestrais
Enfim, hoje de tarde, indo para a reunião do grupo de taiko que faço parte, fui observando o mar e relembrando algumas músicas dele, bem como algo que havia ocorrido. No dia posterior á morte dele (dia 26), no trabalho, ouvi as mulheres que trabalham lá falar todo tipo de asneira possível sobre o ocorrido. "Já vai tarde", "pedófilo desgraçado", "sacana que não tinha orgulho de ser negro".
Não comentei nada.
Mas houve o ímpeto de fazê-lo.
Sou novo no trabalho e não posso criar inimizades desde já. Fora que algumas delas foram designadas para me treinar, em um tipo de trabalho onde existe a necessidade de lembrar de mil e um códigos numéricos e siglas diferentes (cadastramento processual). Obviamente criar uma indisposição no trabalho tão cedo não seria saudável para meu futuro lá. Na verdade dificilmente haveria um, se eu o fizesse. Portanto preferi por meu fone de ouvido e continuar o cadastramento dos processos de forma robótica como sempre vem sendo.
É assustadoramente incrível a capacidade humana de julgar os outros sem antes tentar entende-lo por completo, sem antes se por no seu lugar e pensar "o que eu faria se fosse ele, estando no seu lugar e vivenciando as experiências que ele viveu?". Já se tornou um mal-hábito automático. As pessoas não se dão ao trabalho de procurar ler um pouco, o mínimo que seja, sobre a pessoa em questão, ouve qualquer merda na TV, criado pela maldita manipuladora de mentes( a mídia) de negativo a respeito dela e pronto; a pessoa será rotulada pro resto da vida.
Isso é uma desgraça.
Eu, particularmente, não acredito que Michael seja pedófilo. Sabe-se lá o que se passa na cabeça de uma criança que, como eu, não teve uma infância sadia e normal. Enquanto eu jogava bola, nadava na piscina, ia jogar videogame com amigos, o cara estava treinando a exaustão absoluta e apanhando de um pai explorador e avarento, sem direito, às vezes, sequer de comer enquanto não alcançasse satisfatório sucesso em alguma música. Michael nunca teve amigos nesse tempo (talvez nunca tenha tido nenhum, de fato), não tinha com quem desabafar. Tolerava calado todos os dias, apanhando e sofrendo racismo do próprio pai. Então, surge a primeira notícia de pedofilia ligada a Jackson, o caso de Jordan Chandler, que foi uma farsa, mas que foi o suficiente para começar uma série de acusações de mesmo cunho
Bem como, claro, o resto da pouca sanidade mental que restava nele.
Tentando sentir menos o racismo que deve ter sofrido a vida toda, tentou de alguma forma se tornar branco de pele, liso no cabelo e de feições mais finas. Sem uma pessoa próxima para conversar com ele e, de certa forma, lhe colocar limites, ele seguiu em frente, destruindo o próprio rosto e corpo. Não que eu ache errado a tentativa dele de mudar a própria aparência, mesmo que de forma tão radical. Não cabe a mim achar certo ou errado este tipo de coisa. Ele queria se sentir melhor, e buscou isso, apesar de não ter tido sucesso e, infelizmente, o efeito foi o contrário do que ele esperava. Provavelmente passou a sentir racismo de ambos, negros e brancos. Usando como pano de fundo a cena vista por mim no trabalho já comentada, onde as mulheres, a maioria absoluta negra, reclamavam de que ele tentou "virar branco, não tem orgulho de ser negro".
Ah, vá a merda, por favor.
É nessas horas que da vontade de parar o trabalho e perguntar "Vocês tem orgulho de serem negras? Tem né? Esse cabelo alisado aí também faz parte do seu orgulho né? Bem como o cabelo de suas filhas, que eu sei que também são. Vocês não têm moral nenhuma pra falar nada, porque se tivessem o dinheiro e a coragem que ele teve tentariam virar brancos também".
Mas sabe como é... Como todo bom brasileiro, abaixei minha cabeça e fingi não ter ouvido nada. O homem está morto, nada mais interessa a ele, nada mais o atingi, nem o preocupa. Quanto a mim, que ainda vivo, tenho de comer e ajudar em casa.
Desculpa ae Michael.
Saudades.